segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Quatro Lascas narrativas


Por Geraldo Lima

Eram seres primitivos, usando ainda armas rudimentares. Foi fácil a missão: invadiram o planeta e escravizaram todos eles.

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No desespero, invocou a ajuda de Deus. Esperou, até o último segundo, que Ele desviasse a lâmina do seu corpo.

***

Vai esperar por ela até tarde. Abre uma cerveja, liga o televisor, senta-se no sofá. O pensamento armado até os dentes.

***

Amolou a faca, enrolou-a numa folha de jornal e saiu disposto a tudo. Mas Deus é que ia guiar-lhe a mão na hora precisa. 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Cupim


                        (Fonte: Google)

Por Geraldo Lima
 
O nome científico  do distinto é coptotermes formosanus, e ele  faz parte de um grupo até eclético, incluindo aí as asquerosas baratas e o predador louva-a-deus. O que assombra é que há mais de duas mil espécies dessa praga no mundo.  No Brasil, só para se ter uma ideia, há quatro famílias desse devorador de móveis, livros, árvores, sossego etc., etc., etc. Como esse inseto gosta de regiões quentes, aqui é o paraíso para ele. Tanto no solo (cupim de solo) quanto na madeira (cupim de madeira seca), ele prospera aos milhares.

Os cupins são seres surpreendentes: formam uma sociedade organizadíssima (se brincar, mais do que a nossa), composta de rei, rainha, ninfas, soldados e operários, todos cumprindo à risca o seu papel na colônia, sem greves, sem protestos, sem reivindicação alguma. Pasmem: a rainha é capaz de pôr um ovo a cada vinte e oito segundos, gerando em torno de três milhões de ovos por ano. E a infeliz pode viver de vinte e cinco a cinquenta anos. Jesus Cristo, isso é uma eternidade!

Por que estou aqui a falar (como diriam os portugueses) desse ser tão indesejado? Imaginem um armário de cerejeira, quase vinte anos de uso, coisa de primeira, sendo corroído lentamente, metodicamente, silenciosamente, por um exército de cupins surgido não se sabe bem de onde. Um belo dia (ou um horrendo dia?), o piso aparece forrado de grânulos fecais. Poético, não? Grânulos fecais... Só soube que se tratava do cocô do maldito tempos depois, até então pensava que eram apenas farelos da madeira. O que fazer? Era apenas um buraquinho na madeira, um orifício de 3 a 4 mm de diâmetro, então pensei na minha suprema arrogância: vai ser fácil acabar com esses danados. Passei logo da teoria à prática: comprei o veneno e inundei o buraquinho por onde eles se livravam dos tais grânulos fecais e por onde saem também, fiquei sabendo depois,  as aleluias na primavera (os tais cupins alados que são atraídos pela luz).  

Fiquei na expectativa durante umas três semanas, até concluir, aliviado, que os invasores haviam desaparecido.

Vitória!

Oh, ilusão! Oh, santa ignorância!  

Dias depois, eis o chão forrado de novo de grânulos fecais. Para meu desespero, outro orifício, ou melhor, outros orifícios salpicavam a madeira do armário. Atingiam pontos diferentes, como a porta e a lateral.  Do desespero passei à ira. Parti para a briga indignado. E tome veneno! Eu os exterminava, e eles ressuscitavam dias depois. Essa luta levou dias, meses, até eu admitir com humildade que não conseguiria vencê-los totalmente. A ideia, agora, era manter o jogo empatado, alimentando a sensação de que eu estava conseguindo adiar a inevitável vitória do inimigo: eu batia o veneno, e eles sumiam... logo depois reapareciam; eu batia o veneno, e eles sumiam... logo depois reapareciam... e a vida ia em frente, fora e dentro das galerias escavadas na madeira.

A estratégia estava funcionando. Havia dias e dias de trégua. Meu ser era só esperança: quem sabe, num lance de sorte, eu não conseguiria virar o jogo?  

Meus caros, lutar contra cupim, sem as armas adequadas, é uma luta vã. É como lutar contra o câncer.

Dias desses, tendo que fazer uma reforma no apartamento, fomos obrigados a tirar o armário do lugar. Só então o câncer apareceu em toda a sua extensão. De ponta a ponta do móvel havia cupim. E eu pensando que estavam só ali, na superfície, na parte frontal. Atrás, dos lados, em cima, tudo tomado pelo exército devorador. Até nas revistas e recortes de jornais (sou um obsessivo guardador de papel) eles haviam penetrado. Usando sua potente perfuratriz, um deles abriu um furo que atravessou o bloco de revistas de um lado ao outro. Em outras o estrago foi maior: figuras inteiras foram devoradas, restando apenas um pedaço de papel em frangalhos.

O diagnóstico era um só: o armário estava condenado. Para que a praga não se alastrasse para outros móveis, tivemos que nos desfazer dele. E foi como se estivéssemos nos desfazendo de uma parte do nosso ser. Sei que estou parecendo dramático, exagerado, mas foi assim mesmo, afinal, era uma parte da nossa história que aqueles cupins haviam destruído.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Promoção de livros no site O BULE


 
Promoção! ‘O acaso das manhãs’ e ‘Areia (À fragmentação da pedra)’, de Milton Rezende

“Milton Carlos Rezende estreia de forma brilhante com O Acaso das Manhãs. São poemas reflexivos de alto nível, nos quais o poeta investiga (com ironia) o cotidiano e os problemas do homem. Nessas reflexões (em que se incluem os poemas sobre o poema), o poeta jamais perde a consciência da precariedade da existência humana”.

A visita


De súbito a chuva cessou.
Ponho-me a escrever sobre ti,
criatura sem carne
que me visita.

Não sei de onde vens,
mas sempre chegas
nas horas mais extenuantes
de minha fuga.

Fecho portas e janelas

para não te permitir
livre acesso sobre mim,
que de cansado me basto.

Mas tu me vens sem ser chamada
e mesmo sem chegar em forma clara,
sei que és minha consciência,
e te incorporo.

“Em Areia (À Fragmentação da Pedra), o poeta Milton Carlos Rezende prossegue em seu estilo de uma forma contundente e reflexiva. São poemas que buscam resgatar, ao menos em parte, os estilhaços do ser e re/compor a unidade (aparente) da pedra. Mas o poeta sabe que a perfeita junção dos elementos nunca será possível, e apenas tenta torná-la plausível em meio ao deserto de areia”.
 

Atômico


Nossos filhos nascem cegos
pela poeira do nosso tempo.
Nós ainda enxergamos
porque já entendemos o mundo
a partir da poeira que há nele,
e que não nos incomoda muito.

Sobre o autor
Milton Rezende nasceu em Ervália (MG), em setembro de 1962. Viveu grande parte da vida em Juiz de Fora (MG), mas atualmente reside em Varginha (MG). Escreve em prosa e poesia e a sua obra se divide entre inéditos e publicados. Entre estas últimas encontram-se: “O Acaso das Manhãs” (Edicon, 1986), “Areia (À Fragmentação da Pedra)” (Scortecci, 1989), “De São Sebastião dos Aflitos a Ervália – Uma Introdução” (Templo, 2006), “Uma Escada que Deságua no Silêncio” (Multifoco, 2009), “A Sentinela em Fuga e Outras Ausências” (Multifoco, 2011), “Inventário de Sombras” (Multifoco, 2012) e “Textos e Ensaios” (Multifoco, 2012). Possui inéditos os livros: “Mais uma Xícara de Café”, “A Magia e a Arte dos Cemitérios” e “O Jardim Simultâneo”.
 
Onde comprar
Exemplares dos seus livros podem ser adquiridos diretamente com o autor através do e-mail milton.rezende@yahoo.com.br (depósito ou transferência na conta do Banco do Brasil, Ag. 032-9, C/C 11.807-9) ou através do site da Editora Multifoco:

Preço promocional:R$ 14,90 cada exemplar (com frete incluso).

* Promoção válida até o dia 31 de dezembro de 2012.
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