Por
Geraldo lima
Era uma mulher livre – no sentido
pleno da palavra.
Ele a conheceu assim, um horizonte
amplo e indefinido. Ainda que o amasse, não conhecia fronteiras nem amarras. Era
uma dessas capazes de nos fazer sofrer mesmo em pleno gozo, tal a sensação de
fluidez do seu espírito e o estado sempre movediço do seu corpo. Um corpo que,
estando em nossos braços, já escorregava para outro plano, outros desvãos de
desejos e sonhos.
– Morri no dia em que ela me deixou – ele me
revela com a voz ainda doente, cravada de pus e dor. Essa sua voz sem cura
reverbera em minha pele e atravessa minha mente de ponta a ponta.
Dela, ele se recorda principalmente
do cheiro de carne e de alma em brasa. Isso que, para ele, é uma incisão
profunda na memória, como essas que o vento, ao longo de séculos, milênios,
inscreve nas rochas.