sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Dona de si


Por Geraldo lima

Era uma mulher livre – no sentido pleno da palavra.

Ele a conheceu assim, um horizonte amplo e indefinido. Ainda que o amasse, não conhecia fronteiras nem amarras. Era uma dessas capazes de nos fazer sofrer mesmo em pleno gozo, tal a sensação de fluidez do seu espírito e o estado sempre movediço do seu corpo. Um corpo que, estando em nossos braços, já escorregava para outro plano, outros desvãos de desejos e sonhos.  

– Morri no dia em que ela me deixou – ele me revela com a voz ainda doente, cravada de pus e dor. Essa sua voz sem cura reverbera em minha pele e atravessa minha mente de ponta a ponta.

Dela, ele se recorda principalmente do cheiro de carne e de alma em brasa. Isso que, para ele, é uma incisão profunda na memória, como essas que o vento, ao longo de séculos, milênios, inscreve nas rochas.