quinta-feira, 22 de abril de 2010


VII. Sibila.

Por Geraldo Lima

        Aceitara o nome, o destino, enfim, que ele implicava, mesmo porque não havia para onde fugir num mundo sitiado pelo Absoluto.
        Faça alguma coisa, não és bruxa? Risos. Perversa alegria. Campônios, servos das trevas. Que ela os fulminasse com apenas um olhar! Ou os petrificasse então com seu poder de górgone. Satã brotaria das profundas do inferno, a qualquer momento, para salvar das chamas sua amante. Tensos, excitados, exigiam mais ação. Que a cruz na mão do cura, por exemplo, se incendiasse.
        Aceitara o nome e toda a praga semântica que ele carregava. Cristo, instigado por Lúcifer, revelara sua força? Aceitara o nome, assim como o oco do seu absurdo.      
        A tocha acesa na mão do verdugo, aguardando apenas o cura concluir sua fala. Fogo mínimo iluminando o dianoite. Crepitar de lenha seca logo em seguida. As labaredas, enfim, ganharam altura.
De certo modo, mesmo a contragosto, era preciso admitir: nada de anormal estava acontecendo ali. Em meio à turba, porém, comovia-se um rapazola reduzido ao máximo encanto, tomado de assombro, enfeitiçado definitivamente pela mulher ardendo  nas chamas.

(Do livro inédito Tesselário, que será publicado pela Editora Multifoco.)

3 comentários:

  1. Geraldo Lima,

    Um livro é como um filho. A gente consegue domá-lo somente até a nona página. Depois do prefácio, ele é do mundo.

    Geraldo Ferreira de Lima

    ResponderExcluir
  2. Obrigado, Iara, pela visita ao meu blog. Gostei também do seu blog: tudo muito verdadeiro e intenso.

    ResponderExcluir
  3. Xará, concordo plenamente com as suas palavras. E obrigado pela visita ao meu blog.

    ResponderExcluir