Por Geraldo Lima
No filme “Chocolate” (2000),
dirigido pelo sueco Lasse Hallström, o olhar tem uma importância primordial. É
através dele que se tornam visíveis os elementos que compõem a vida cotidiana
dos moradores de uma fictícia cidade no interior da França. Está lá o olhar de medo, de obediência ao
poder fiscalizador do conde Paul de Reynaud (Alfredo Molina), guardião da tradição e dos bons
costumes. É ele que comanda a vida na cidade, que decide sobre o destino das
pessoas. Mas eis que, nesse reino de ilusória tranquilidade, irrompe o elemento
desestabilizador, o nômade que traz a novidade, o desapego às normas locais, à
rotina. O que resulta disso é o choque,
a batalha para se estabelecer (ainda que em caráter provisório) e o esforço para
manter a vida na sua rotina de aparente felicidade. Daí a importância que ganha
o olhar de curiosidade, de fascinação pelas guloseimas produzidas por Vianne
Rocher (Juliette Binoche). Sua Chocolataria vai se tornar o ponto de atração e
sedução de boa parte dos moradores do lugar, o ponto de partida para uma
mudança radical no modo de vida de algumas pessoas. Em certo sentido, a
libertação do julgo, da violência, do preconceito. É a
partir dali, com a disposição dos produtos de chocolate na vitrine e nas
prateleiras, que se irradiará uma força capaz de romper o clima de temor às
regras impostas pelo conde. Ele mesmo será arrastado por essa força de atração
e se fartará de chocolate até cair no sono. Desse ponto em diante, a cidade se
abrirá às surpresas que a vida pode oferecer, ao olhar de ternura, de amor sem
receio, de amizade. O espírito nômade de Vienne e Roux (Jonhnny Depp) se integrará ao fluir manso e enraizado do
lugar. Belo filme. Ótimo para pensarmos sobre a ideia de pertencimento, no ser
nômade, e na sensação de opressão num ambiente extremamente regulado por
códigos de conduta.
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