Por
Geraldo Lima
Minha mãe caiu em desespero e se pôs
a rezar, a fazer novenas, a se valer de todos os santos. Meu pai fez o que
tinha que fazer, o que lhe cabia fazer como pai e como homem: arrastou o filho
para um canto e, com palavras duras, sem aresta, sem nada, tentou fazê-lo enxergar o abismo do qual
estava se avizinhando, a grande merda (foram estas, na verdade, suas palavras)
em que estava se metendo ao se apaixonar por uma mulher daquela espécie.
Todas essas palavras cobertas de
lucidez e aflição, todas as rezas e súplicas dirigidas aos santos, tudo, tudo
caiu entre pedras e não vingou. Meu irmão estava surdo a todos os conselhos.
Não enxergava mais nada, por mais que a coisa
pulsasse perigosamente diante dos olhos dele.
- Vocês querem que eu me mate, é
isso?, gemeu acuado contra a parede.
Essas palavras do meu irmão,
fendidas de dor e angústia, só iriam fazer sentido para nós tempos depois.
Naquele momento, empenhados em demovê-lo daquela louca paixão, ninguém viu
nelas uma porta entreaberta à borda do abismo. Caberia à sua amante, como
muitos vaticinaram, escancará-la num gesto do mais completo desamor.
É muito difícil conseguir tensão em tão breve espaço. O abismo que nos leva à catarse existencial.
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