Por
Geraldo Lima
Chegamos ao vão do MASP (Museu de
Arte de São Paulo) e logo somos abordados por um poeta que nos apresenta seu
livro de poesia intitulado “Petit Trianon”. Pede para abrirmos na página onze.
Abro e leio o poema cujo título é “vir-a-ser”. Acho fraco. Confessional demais.
Falta aquele trato dado à linguagem – falta, essencialmente, a compreensão de
que poesia é "linguagem carregada de significado", como diria Ezra
Pound.
Caio na besteira de perguntar quanto
custa. Vinte reais, responde o poeta. Acho caro. Não por ser livro de poesia e
por ainda estar sendo vendido assim, como no período da Geração Mimeógrafo
(naquela época, década de 70, muitos poetas, ditos marginais, confeccionavam e
vendiam seus livrinhos de poesia nos bares, portas de teatro, de cinema etc. Eu
mesmo fiz isso. Era um modo de se opor ao sistema fechado das editoras). Não,
não era esse o motivo: é que achei o conteúdo fraco e péssimo o acabamento dado
ao livrinho. Só que nesse ínterim minha esposa achou de revelar que eu era
escritor também. Aí fiquei constrangido de dizer que não iria ficar com o
livro. Iria parecer falta de solidariedade, de amor à arte da palavra. Um
escritor sovina, sem espírito de classe, ah, nem pensar! Comprei o livro, mas achando que deveria ter
pelo menos pechinchado.
Diz um texto de apresentação que o
poeta "compartilha sua poesia por mais de vinte anos em frente ao
MASP". Nasceu em Londrina, talvez isso explique o nome que lembra mais um
poeta russo: Ivan Petrovich. Folheando o livro, descobri alguns haicais entre
os poemas longos (o haicai é um poema de origem japonesa, composto de três
versos). Os longos são, de um modo geral, fracos, mas os haicais são bons. Isso
até me deixou aliviado: os vinte reais não foram de certo modo desperdiçados.
Publico aqui dois dos haicais do nosso poeta para que possam atestar se estou
equivocado ou não:
"verde bambuzal,
passeia no vento
a borboleta sem cor"
"sol do meio dia
nem sombra da minha sombra
o fundo sem fundo"
(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho)
Li em voz alta e com muita emoção a poesia do Ivan. O agradeci, no masp, com forte abraço. Sem aspas ou descontos. No momento em que leio as poesias para diversas pessoas, por algum motivo, a surpresa vem átona. Percebo; a poesia funciona, ela atinge seu objetivo. Já diria Rubem Alves ou Guimaraes ou Leminski.
ResponderExcluirComprei recentemente o mesmo livrinho sem graça, pelos mesmos 20 reais.Dito isso, fomos, somos e seremos solidários sempre que necessário..poetas ou não.
ResponderExcluirCaro Geraldo Lima:
ResponderExcluirO Poema vir-a-ser é uma das coisas mais profundas que já li, ele conseguiu expressar com uma síntese divina tudo que eu jã sentia e vislumbrava.
É simnplesmente genial!!
Gostaria se for possível de causar reflexões na profundidade da sua compreensão e que ao menos você suspeite da sua rasitude e superficialidade ou da gaiola onde você habita. Nunca é tarde para mergulhar em águas profundas ou abrir a porta da gaiola e voar!!!
Meus sinceros votos de renascimento
Egas Campos