Pintura de Guignard
Por Geraldo Lima
Quando a amiga disse que a viu saindo de uma
churrascaria com o marido, numa sexta-feira à noite, Sílvia estranhou, mas não
deu muita importância ao fato. Vez ou outra ela e o marido iam mesmo a
restaurantes e churrascarias, e dia desses eles tinham ido acompanhados dos
filhos. Deve ter sido nesse dia. Mas quando a amiga acrescentou que ela e o
marido estavam com a corda toda, pois os vira entrando num motel, numa
sexta-feira à tarde, se não lhe falhava a memória, aí então Sílvia estremeceu,
sentiu uma pontada no peito, e a amiga percebeu na hora que ela havia mudado de
cor.
– Tem certeza que era eu e meu marido?, perguntou engasgada, como se de
repente lhe faltasse ar nos pulmões.
A outra disse que sim, que não tinha dúvidas: eram
eles sim, a menos que tivessem sósias.
Sílvia sentiu a sola dos pés e a palma das mãos
gelarem como se o sangue estivesse vazando todo do seu corpo. Resistiu à
vertigem e manteve-se de pé. Um raio pareceu ter lhe atravessado o
cérebro, abrindo uma clareira enorme – no mesmo instante, a imagem da
irmã gêmea univitelina tomou-lhe a mente de assalto.
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