Por Geraldo Lima
Está diante dela, mas é como se
estivesse diante de uma estátua de mármore. De um iceberg. De um monumento erigido
à indiferença humana. Não fosse o poder de atração que ela
exerce sobre ele, com uma força descomunal, incompreensível até, viraria as
costas à sua frieza e partiria sem ao menos dizer adeus.
É um vício, ele pensa, o que me ata
a essa mulher. Fraqueza e desapego a mim mesmo. O que era amor, algo que fruía
tranquilo, virou doença, praga, infecção, ruína dos sentimentos.
O esforço, que lhe custa muita
energia, é para não cair de joelhos aos seus pés. Não se desmanchar em lágrimas
também. Curvar-se mais do que já se curvou é renunciar a toda dignidade.
Manter-se de pé é ainda um trunfo.
Vai, no entanto, numa última
tentativa, num rasgo de puro desespero, dizer que a ama, que há uma faca
rasgando-lhe o peito, um pus alastrando pelo corpo todo. É seu último gesto de
entrega, de abandono completo das forças, do brio, da alma, e se lança para
fora de si mesmo, íntegro, exposto ao extremo, mas as palavras apenas
escorregam pela borda dos lábios e tombam no vazio.
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