Por Geraldo Lima
É como se não tivesse ficado tanto
tempo longe de casa. Como se não tivesse, num rompante do mais louco
romantismo, abandonado tudo em nome do amor mais extremo. Olhando-a assim, tão
desenvolta na casa que ela renegou um dia, podemos nos espantar com a sua
certeza de que ainda cabe ali, de que não há outra em seu lugar, de que ele não
trocou a fechadura exatamente para que ela entrasse sem precisar tocar a
campainha. E aí está ela, desfazendo a mala, indagando sobre o comportamento
das crianças (nem percebe que cresceram, que praticamente não a reconhecem), e
reclama do guarda-roupa bagunçado, reafirmando, talvez, a necessidade de sua
presença ali. Ele, até agora, observa tudo pasmo, com um engasgo, uma vontade de
dizer algo, uns desaforos, uns desafogos, indagar, se impor, mas sentisse-se
atravessado por sentimentos contraditórios:
enquanto busca em si o ódio, a faca que trincha, um fiapo de alegria deixa-o mole, aliviado,
quase a ponto de chorar. Intenta reagir contra essa fraqueza, porém já é tarde,
ela domina o ambiente, preenche o vazio de antes, dando a nítida impressão de
que tudo está começando agora, sem pus algum na ferida que lateja ainda
exposta.
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