Por
Geraldo Lima
Este ano, a Dama da Foice não
economizou na colheita e ceifou a vida de muita gente boa, – gente que faz falta ao nosso cenário
cultural. Fez um estrago grande no time dos artistas, dos escritores e dos
intelectuais, aqui e em terras estrangeiras. Vão dizer: isso é normal, que
nesse time aí tem muita gente, e a morte não descansa nunca, ceifando vidas a
todo instante, sejam elas famosas ou não.
No time dos escritores, por exemplo,
ela levou, sem dó nem piedade, três grandes da nossa literatura: João Ubaldo
Ribeiro, Ariano Suassuna e Rubem Alves. João Ubaldo escreveu um dos livros
fundamentais da nossa literatura: “Viva o povo brasileiro”. Um calhamaço,
desses que param em pé na estante. Ariano Suassuna, por sua vez, tornou-se um
dos dramaturgos mais populares do nosso tempo ao ter algumas de suas obras
adaptadas para a TV e para o cinema. É o caso da peça “Auto da Compadecida”,
transformada em minissérie, apresentada pela Globo, e depois em filme de grande
sucesso em nossos cinemas. Defensor radical da cultura popular brasileira,
criou, juntamente com outros artistas, o Movimento Armorial, com o objetivo de
fundir cultura popular e cultura erudita.
Rubem Alves é outro caso de popularidade. Em reuniões de professores ou
em seminários sobre Educação em terras brasileiras, quase sempre se faz a
leitura de algum de seus textos. Como diria Nelson Rodrigues: É batata!
Educador e teólogo, ele fez, sem dúvida, a cabeça de muita gente. A minha,
propensa a nadar contra a corrente, criou certa indisposição à leitura dos seus
textos, – é que a onipresença tende a provocar em mim uma atitude refratária.
Para além das nossas fronteiras, a
morte silenciou Gabriel García Márquez, escritor colombiano ganhador do Nobel
de Literatura de 1982. Ele foi responsável, também, por criar o chamado
Realismo Mágico na literatura latino-americana. Seu maravilhoso romance “Cem
anos de solidão” é um exemplo genuíno desse gênero literário. No cinema
norte-americano, a vilã levou um ator de cujas interpretações eu gostava muito,
Philip Seymour Hoffman, e outro que sempre me provocou certa antipatia, Robin
Willians. Explico a causa dessa antipatia: ele, para mim, queria ser engraçado
em todas as ocasiões, e isso me pareceu sempre excessivo, chato até. Graça
demais cansa. Tolero-o em “Sociedade dos poetas mortos”, e só! Mas tenho
consciência da sua importância para o cinema de Hollywood e do quanto ele
arrancou risos de plateias pelo mundo afora. Seymour foi um ator denso, desses
capazes de nos fazer sentir a vida em sua força máxima. Ator com vida interior
intensa e força expressiva marcante. Um filme protagonizado por ele que
recomendo é “Dúvida”. De quebra, há ainda a presença arrebatadora da atriz
Meryl Streep. No Brasil, o estrago não
foi menor: a infeliz calou José Wilker, Paulo Goulart e Hugo Carvana, vozes e
expressões de relevo na televisão, no teatro e no cinema. Nossa mídia
televisiva, tão infestada de caras inexpressivas, ficou a partir de então mais
pobre e insossa.
Bom, a lista fatídica continua, daí
o imenso estrago feito pela “Indesejada das gentes”. O ano está findando,
torçamos, então, para que ela tenha já terminado seu triste e melancólico
trabalho. A vida só não fica sem sentido com tantas perdas porque, na contramão
dessa atividade fúnebre, ela se renova sempre. Daí eu saudar, neste texto, a
chegada de duas novas pessoinhas à nossa família, dois novos sobrinhos: Nícolas
e Maria Flor. Vida longa a vocês, pequeninos!
Para todos e todas, um 2015 de
superação e harmonia!
(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho e no Jornal Opção)
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