Por
Geraldo Lima
Antigamente (e digo isso só por
força de expressão mesmo), uma pessoa que andasse pela rua falando sozinha
(falando e gesticulando!) era, sem dúvida alguma, louca. Era o diagnóstico mais
preciso que já conheci. Havia, inclusive, as que, além de falar com o
invisível, costumavam se esmurrar. Esmurravam em si, talvez, o inimigo ausente.
Conheci uma dessas pessoas. O
sujeito era alto, cabelos desgrenhados, a cara de boxeador que só apanha.
Rezava a lenda que ele havia batido na mãe e por isso ficara daquele jeito.
Morria de medo dele. Melhor: tinha pavor! Era avistá-lo ao longe e eu pegava um
desvio de quilômetros de distância.
Hoje não é mais assim. Vez ou outra
nos deparamos com alguém falando sozinho, gesticulando, bradando até, e, assim
que vamos lhe aplicar o diagnóstico da loucura, o engano se desfaz.
Descobrimos, entre o alívio e o espanto, que essa pessoa, na verdade, fala ao
celular, através de um fone de ouvido e um microfone, com alguém distante. Tudo
muito camuflado, quase parte do corpo. Por conta disso (e talvez por reflexo do
passado), já até mudei de fila em supermercado, sacolão e banco ao ver alguém,
à minha frente, falando sozinho. Falando e gesticulando. Alguns, mais
exagerados, até esmurram o ar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário