Por Geraldo Lima
Dobra 3.
Súbito, uma voz lhe chama de dentro desse buraco aberto no espaço-tempo. Uma voz imperiosa. Um raio-frásico penetrando seus ouvidos. Lascas de palavras vindo de longe, do princípio de tudo, quando os Céus e a Terra se confundiam numa coisa só e a escuridão lhes servia de veste. Um mistério. Um plano que se abre diante dos seus olhos e não aponta direção alguma.
Volta-se assustado, o corpo-alma varrido
por calafrios, como se um fantasma invocasse seu nome de dentro de uma névoa
densa e gélida.
De novo, a voz imperiosa vindo do nada.
Dá um giro de 360º. Uma varredura completa
num raio de trezentos metros. Nada.
Apenas o plano alvo, regular, como a superfície de uma mesa. Anda. Tenta, na
verdade, escapar dessa voz que o busca no ermo. Encontrasse uma árvore, uma
pedra, um buraco que lhe servissem de esconderijo, tudo se resolveria, estaria
a salvo.
O
que queres de mim?, quis
indagar, mas as palavras estavam congeladas na garganta.
Teria sido Deus — como se chamasse por
entre as nuvens: Abraão! Abraão! — o
autor desse chamado longínquo, misterioso? Mas, com que propósito? Alertá-lo
sobre o fim do mundo? Elegê-lo o novo
Noé? Devia ter parado, ouvido e se curvado, mas o pavor o levou para longe.
Talvez fosse apenas o morto que, dando pela
sua falta, quisesse chamá-lo de volta. Pode ser também que o vazio provoque
algum tipo de alucinação e a pessoa acaba tendo a impressão de que alguém a
chama de dentro do nada.
O plano estende-se a perder de vista, um
mundo sem bordas, sem limites. Seria ali a sua morada a partir de então? Seria
isso o que chamam de “morada eterna”? Fatigado de tentar se esconder e não
encontrar abrigo, senta-se num ponto qualquer e, logo em seguida, adormece.
(Continua...)
(Continua...)
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