Por Geraldo Lima
Dobra
5.
Aqui, nesta ruazinha, as pessoas andam com
mais vagar, olhando atentas as vitrines das pouquíssimas lojas. São ainda pessoas desconhecidas, saindo da
cartola de um mágico invisível. Suas vestes revelam um passado distante, que
ele conhece apenas de livros e revistas.
Estava se afastando, cada vez mais, do ponto
de origem ou estava, na verdade, aproximando-se dele?
Lembra-se
vagamente de ter ouvido uma voz enquanto deixava a casa e seu burburinho. A voz
pedia, implorava, na verdade, para que ele não demorasse, para que não se
desviasse pelo caminho e sumisse como das outras vezes. Ouvira, entretanto,
algo que ele não havia entendido. A pessoa, talvez sua mãe, dissera algo mais
ou menos assim: Seu corpo não pode viver
sem você. Sim, sim, eu ouvi essa
frase, quase grita, tentando chamar a atenção dos transeuntes. Ninguém, no
entanto, abandona o andar distraído para lhe dar atenção. Lembra-se de ter dito algo assim como: Só vou ver onde os homens estão. Crê que
os homens sejam aqueles que conversavam na varanda, gargalhando no mais
completo desrespeito ao morto, — caso fosse mesmo um morto que se encontrava
lá, no centro da sala, em exposição.
A seqüência de ações era ainda nítida em
sua mente: abriu o portão, desceu três ou cinco degraus, tocou a calçada e a
rua infinita desdobrou-se ante os seus olhos, mais adiante outra e outra e
outra...
Perguntava-se agora: Estou indo para algum lugar específico? Este meu caminhar de rua em
rua, de ermo em ermo, de mundo em mundo tem algum destino certo? Sabia, com
absoluta certeza, que não estava indo atrás dos homens (os que, supostamente,
teriam saído para beber e jogar sinuca), mesmo porque já não sabia quem eram
esses homens e se seria possível identificá-los agora.
Cansado de seguir em linha reta, entra numa
das lojas, cheia de quinquilharias, e vai avançando em ziguezague. A loja
parece não ter fim. Uma galáxia inteira de bugigangas. Um universo que se
dilata segundo a segundo. Olha para trás e não vê mais a porta por onde entrou.
Então, avança, e continua a avançar, mesmo sem saber aonde vai chegar. Avança
porque sabe, no íntimo, que isso não tem mais fim.
Primeira visita, mano. Gostei do visual do blogue, gostei do texto
ResponderExcluirFantástico!
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