Por Geraldo Lima
A rajada de vento apanhou a folha de
papel jogada sobre a ponte e a transportou numa viagem desengonçada por sobre
as águas do rio. A mulher acompanhou a trajetória da folha até não avistá-la
mais, talvez tenha caído na água e se dissolvido toda, pensou. E no mesmo
instante desejou ser aquela folha de papel e ser arrastada pelo vento. Ser,
enfim, arremessada contra uma superfície sólida ou líquida e desaparecer
inteira.
Quando pequena, ela já sentia a
vertigem de se imaginar jogando ali de cima da ponte. O corpo, como um tronco
de árvore podre, flutuava por alguns instantes e depois era arrastado
violentamente pela força da gravidade. Sua imaginação febril agia com tanta
perfeição que ela podia ouvir o som da água se esparramando toda em ondas
concêntricas assim que o corpo a tocava.
Uma árvore de tronco podre, é assim
que se sente agora. E está prestes a romper com as raízes e tombar no vazio. Só
espera a próxima rajada de vento colhê-la sem aviso e delicadeza.
Muito bom.
ResponderExcluirTambém espero por uma rajada de vento.
Um belo conto, Geraldo! Um abraço!
ResponderExcluirUm conto sintético mas contundente!
ResponderExcluirValeu, Alberto. Bom vê-lo por aqui.
ResponderExcluirGrato, Cynthia, sempre.
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo comentário, Cláudio.
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