sábado, 3 de outubro de 2009

BAQUE UMA SARAIVADA DE METÁFORAS

Joel Pires

Uma passagem bíblica se refere aos discípulos de Cristo como o “sal da terra”. A boa literatura também é assim. É o que dá gosto. É o que faz a diferença. É o que instiga os sentidos. Assim é o livro “Baque”, de Geraldo Lima, conhecido escritor da cidade de Sobradinho, que já faz parte do cenário literário nacional. Trata-se de uma obra impressionante, cuja leitura se torna indispensável a todos os que se inquietam diante das perplexidades da vida.

A metáfora também é como o sal. Sem ela, não há literatura. Tudo se torna insosso. Navegando pela internet e folheando livros à procura de um bom conceito para metáfora – o que é difícil –, encontrei uma aproximação do que seria essa figura de linguagem: “a metáfora se comunica com os dois lados de nosso cérebro. O termo é compreendido literalmente pelo lado esquerdo, associado à mente consciente, lógica e racional, onde se encontram as estruturas corticais responsáveis pelo processamento da linguagem. Ao mesmo tempo, é percebido, em seu sentido figurado, pelo lado direito, associado à mente inconsciente, intuitiva, criativa, emocional”.

Embora seja interessante, não aceito muito bem essa compartimentalização. O certo é que o cérebro é uma unidade complexa e, assim como no mundo externo, acredito, tudo está interligado. A leitura de Baque não divide os hemisférios cerebrais, mas provoca uma estranha sensação. E isso é bom. É o que os teóricos da literatura chamam de “estranhamento”, cuja tentativa de definição seria o efeito criado pela obra de arte literária para nos distanciar em relação ao modo comum como apreendemos o mundo – uma desautomatização –, ou, no dizer de Bertolt Brecht, uma desalienação.

Assim, ninguém permanece incólume ao fenômeno literário. Somos, inconscientemente, convidados à mudança. O efeito catártico da leitura dos contos do livro citado nos leva a uma consciência de nossa verdadeira dimensão. E isso não é bom ou ruim, é necessário. É semelhante a quando acordamos de um pesadelo e respiramos aliviados. Ou quando retornamos de viagem com muitas saudades de casa. Passamos a vislumbrar outras alternativas, outras possibilidades. Mas, para isso, é necessário percorrer os caminhos subterrâneos da mente. Baque foi a gota d’água – como sugere a capa –, “a bola que achou de cair no meu quintal”. E tive de rebatê-la. Agora é sua vez.


Joel Pires é professor de língua Portuguesa e Psicopedagogo.

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