Por Geraldo Lima
Sobradinho tem uma banda sinfônica.
Dito assim, isso pode parecer nada, mas, levando-se em conta que o que define
bem a alma de um povo é a arte que ele produz, essa declaração ganha uma
importância imensa. Falo aqui da Banda Sinfônica de Sobradinho, que poucos
conhecem, embora ela exista desde 1979, ano em que iniciou suas atividades como
Fanfarra do Complexo Escolar “A” de Sobradinho.
Fundada pelo incansável maestro José
Antônio da Silva Nascimento, hoje aposentado das suas atividades como regente,
só em 1994 ela passou à denominação de Banda Sinfônica e estendeu suas atividades
à comunidade de Sobradinho. Durante décadas, o maestro Nascimento, como é mais
conhecido, regeu a banda e formou gerações de músicos, entre eles a maestrina
Elaine Cristina Rodrigues, que recebeu das mãos do mestre a incumbência de
manter a banda funcionando. Foi sob a batuta da jovem maestrina, formada pela
UnB, que a Banda Sinfônica de Sobradinho presenteou os que foram ao Teatro de
Sobradinho, no dia 18 de agosto, com um maravilhoso concerto musical, desses
que assistimos e ficamos arrebatados.
O concerto foi irretocável, tanto no
que se refere ao repertório escolhido pela regente quanto pela sua execução.
Quem lá esteve pôde ouvir música popular brasileira de qualidade (Carinhoso, de
José Urcisino da Silva, e Novo Tempo, de Ivan Lins e Vitor Martins), Jazz
(Dixieland Festival, de Louis Armstrong), música caribenha (Que rico el mambo,
de Pérez Prado), entre outros estilos musicais. O mais impressionante e
esperançoso é que entre os componentes da banda havia músicos veteranos
(talentos musicais que nela se formaram e, mesmo estudando no exterior ou
exercendo outra atividade profissional, continuam se apresentando quando
convidados), assim como jovens músicos iniciantes, que não fizeram feio,
mostrando que a renovação continua e o futuro da banda, pelo menos nesse
quesito, está garantido. Havia também músicos convidados vindos de outros
estados, mostrando o caráter fraterno e agregador que só a música pode
propiciar.
Apresentada desse jeito, até parece
que a existência da Banda Sinfônica de Sobradinho tem sido moleza ao longo do
tempo. Apesar de já ter conquistado vários prêmios Brasil afora, como campeã do
Concurso Nacional de Bandas nos anos de 2000 e 2004 e campeã do Concurso
Regional de Bandas do Distrito Federal entre os anos de 1999 a 2006, ainda sob
a regência do maestro Nascimento, a sua manutenção não tem sido fácil. Comprar
instrumentos musicais e mantê-los funcionando custa caro, assim como viabilizar
o deslocamento de vários músicos para apresentações em outros estados. Nessas
horas, caberia ao poder público, ou mesmo ao setor privado, ajudar, mas, em se
tratando de Brasil, isso nem sempre acontece. O que se vê prosperar nessa área
é quase sempre resultado da dedicação de idealistas e amantes das artes, como
foi o caso do maestro Nascimento e, agora, da maestrina Elaine Cristina. O que
a nossa Banda Sinfônica precisa para continuar as suas atividades é de apoio financeiro,
seja do Estado, seja da iniciativa privada. Precisa também da presença do
público nas suas apresentações. E fica aqui uma sugestão: programar
apresentações da Banda Sinfônica para alunos da rede pública e da rede privada,
para que nossos jovens possam enriquecer-se culturalmente.
(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho)