segunda-feira, 14 de agosto de 2017

A arte nas paradas de ônibus


Por Geraldo Lima

Para o filósofo iluminista Voltaire, “a pintura é poesia sem palavras”. Já o gênio renascentista Leonardo da Vinci afirmou que “tudo que é belo morre no homem, mas não na arte”. É a arte, em suas diversas modalidades, que permite ao ser humano escapar da estreiteza da vida regida apenas pela rotina cotidiana e pela repetição de gestos sem transcendência alguma. A vida, sem a intermediação da arte, seria insuportável. Por isso o poeta Ferreira Gullar disse que “a arte existe porque a vida não basta”.

Agora, quando a arte invade as ruas das cidades, a chamada arte urbana, oferecendo às pessoas, no seu ir e vir estressante, a oportunidade da fruição estética, seu poder de agir sobre a sensibilidade dos cidadãos mais que aumenta. Já não há barreiras entre o público e a obra de arte. Já não há desculpas para não apreciar o objeto artístico.  

Quem mora em Sobradinho tem vivido essa experiência estética há anos. Por mais de uma vez, artistas da cidade fizeram das paradas de ônibus verdadeiras obras de arte. Ainda que efêmeras, essas obras de arte contribuem, com certeza, para tornar a paisagem urbana menos cinza e menos dura.

Mais uma vez, como a maioria dos seus moradores já deve ter percebido, Sobradinho tornou-se uma galeria de arte a céu aberto. Quem anda pelas ruas da cidade serrana, ainda que fustigado pela pressa, já deve visto as paradas de ônibus cobertas por pinturas, ora geométricas, ora figurativas, ora misturando essas duas correntes artísticas. O que salta aos olhos, mesmo do ser mais indiferente, é o colorido e a beleza desses quadros expostos para a apreciação de todos, entendidos ou não em arte. O mentor (e autor da maioria dessas pinturas) é o artista plástico Toninho de Souza, que já tem uma carreira artística consolidada dentro e fora do país. Com suas araras, tucanos e melancias, poéticos e coloridos, ele presenteou a cidade com uma megaexposição de pinturas. Parte dela está na Galeria de Arte Vincent Van Gogh, na Quadra 08, outra, nas paradas de ônibus. Tudo isso faz parte da I Bienal Internacional de Arte Urbana de Toninho de Souza, que trouxe, inclusive, artistas de outros países, como Portugal, Colômbia e Argentina. O artista, num projeto arrojado, levou sua Bienal também para o Museu Histórico de Planaltina e planeja pintar as paradas de ônibus que se encontram no trajeto entre as duas cidades.
A exposição na Galeria Vincent Van Gogh tem data para acabar, 31 de agosto, já as obras nas paradas de ônibus, ainda que ameaçadas pelas intempéries ou pela insensibilidade de alguns, devem permanecer por longo tempo expostas para o deleite estético de todos nós, seres bombardeados cada vez mais pela cultura de massas sem nenhum valor artístico.  

(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho)