quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Uma manhã de fúria

Por Geraldo Lima

Meu compromisso no dia seguinte, logo pela manhã, era ir ao Plano Piloto, com horário marcado para chegar e tudo. Se posso evitar, marco sempre os compromissos para o período da tarde, quando o trânsito nas vias do DF costuma estar mais tranquilo. Não foi possível dessa vez, então lá ia eu enfrentar o Monstro do Engarrafamento.

Um dia antes, já fiquei pensando no aborrecimento de ter que enfrentar o engarrafamento de carros até a Ponte do Braghetto. Se não acontece nenhum acidente entre o Balão do Colorado e o Balão do Torto, o fluxo de automóveis, ônibus, motos e caminhões costuma ser até rápido; o problema é que quase sempre acontece alguma merda e o trânsito trava. Geralmente é um caminhão desgovernado que desce ladeira abaixo fazendo estragos. Outras vezes, uma moto não encontra espaço suficiente entre a fileira de carros e a tragédia está posta. Ônibus quebrados à beira da pista costumam congestionar o trânsito também. Ônibus quebrando durante o trajeto é coisa corriqueira, então já viram.

Não deu outra. No dia seguinte lá estava a tira de carros indo da entrada de Sobradinho até perder de vista. Saí do Grande Colorado para deixar minha esposa no trabalho, em Sobradinho I, e fui maquinando que a melhor estratégia seria pegar a DF-001 até o Paranoá, descer até a beira do Lago e contorná-lo até a Ponte do Braghetto. A distância é bem maior, mas só o fato de não ficar uma hora ou mais no trânsito lento, quase parando, já compensaria. Peguei a DF-440, que sobe beirando o Condomínio Império dos Nobres e fui sair na DF-001. Que beleza! Até o Paranoá, havia praticamente só eu na pista. Fiquei pensando nos que enfrentavam a lentidão do trânsito da BR-020 e concluí que havia feito a melhor escolha da minha vida. Quase sempre erro nesse tipo de escolha. Quando mudo de fila num banco ou supermercado, por exemplo, sempre escolho a fila que vai demorar mais. Parece coisa escrita nas estrelas. Ou praga, sei lá. Dessa vez estava me dando bem, e era só felicidade.

Dizem que alegria de pobre dura pouco, e creio nisso. A minha durou até pegar a EPPR, que vai contornando o Lago Paranoá, passa em frente ao Varjão e entra no Lago Norte, ali nas proximidades do Shopping Iguatemi. Minha gente, caí num engarrafamento que deixava o da Descida do Colorado na lanterninha. Mas agora não havia outra saída senão (como disse aquela ministra do Turismo) “relaxar e gozar”.

Pensar e dizer é fácil. No fundo, no fundo o que nos domina mesmo é a raiva e o estresse. Fiquei pensando nos que precisam fazer esse trajeto todos os dias e que, invariavelmente, enfrentam esse inferno. Só consigo enxergar prejuízo, tanto para o cidadão quanto para o Estado. São funcionários chegando atrasados ao local de trabalho e tendo mais gastos com a manutenção do carro. São pessoas que, a longo prazo, ficarão doentes e lotarão os hospitais públicos e os privados. É gente que chega irritada ao trabalho e isso só gera um ambiente improdutivo e tenso. São indivíduos que, a qualquer momento, podem perder as estribeiras e provocar cenas de violência absurda. Enfim, a lista de prognósticos ruins é extensa. E qual é a solução para melhorar esse trânsito caótico? Não sou especialista em trânsito, mas tenho lá a minha sugestão: METRÔ. Só ônibus não resolve. Metrô moderno e eficiente. E pronto!  

Ah, quanto tempo gastei para chegar ao local do meu compromisso, no Setor de Autarquias Sul? Uma hora e meia! Quase uma eternidade! Como havia saído mais cedo, com tempo de sobra, cheguei na hora exata. Nem mais, nem menos.

(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho)