Por
Geraldo Lima
Meu compromisso no dia seguinte,
logo pela manhã, era ir ao Plano Piloto, com horário marcado para chegar e
tudo. Se posso evitar, marco sempre os compromissos para o período da tarde,
quando o trânsito nas vias do DF costuma estar mais tranquilo. Não foi possível
dessa vez, então lá ia eu enfrentar o Monstro do Engarrafamento.
Um dia antes, já fiquei pensando no
aborrecimento de ter que enfrentar o engarrafamento de carros até a Ponte do
Braghetto. Se não acontece nenhum acidente entre o Balão do Colorado e o Balão
do Torto, o fluxo de automóveis, ônibus, motos e caminhões costuma ser até
rápido; o problema é que quase sempre acontece alguma merda e o trânsito trava.
Geralmente é um caminhão desgovernado que desce ladeira abaixo fazendo
estragos. Outras vezes, uma moto não encontra espaço suficiente entre a fileira
de carros e a tragédia está posta. Ônibus quebrados à beira da pista costumam
congestionar o trânsito também. Ônibus quebrando durante o trajeto é coisa
corriqueira, então já viram.
Não deu outra. No dia seguinte lá
estava a tira de carros indo da entrada de Sobradinho até perder de vista. Saí
do Grande Colorado para deixar minha esposa no trabalho, em Sobradinho I, e fui
maquinando que a melhor estratégia seria pegar a DF-001 até o Paranoá, descer
até a beira do Lago e contorná-lo até a Ponte do Braghetto. A distância é bem
maior, mas só o fato de não ficar uma hora ou mais no trânsito lento, quase
parando, já compensaria. Peguei a DF-440, que sobe beirando o Condomínio
Império dos Nobres e fui sair na DF-001. Que beleza! Até o Paranoá, havia
praticamente só eu na pista. Fiquei pensando nos que enfrentavam a lentidão do
trânsito da BR-020 e concluí que havia feito a melhor escolha da minha vida.
Quase sempre erro nesse tipo de escolha. Quando mudo de fila num banco ou
supermercado, por exemplo, sempre escolho a fila que vai demorar mais. Parece
coisa escrita nas estrelas. Ou praga, sei lá. Dessa vez estava me dando bem, e
era só felicidade.
Dizem que alegria de pobre dura
pouco, e creio nisso. A minha durou até pegar a EPPR, que vai contornando o
Lago Paranoá, passa em frente ao Varjão e entra no Lago Norte, ali nas
proximidades do Shopping Iguatemi. Minha gente, caí num engarrafamento que
deixava o da Descida do Colorado na lanterninha. Mas agora não havia outra
saída senão (como disse aquela ministra do Turismo) “relaxar e gozar”.
Pensar e dizer é fácil. No fundo, no
fundo o que nos domina mesmo é a raiva e o estresse. Fiquei pensando nos que
precisam fazer esse trajeto todos os dias e que, invariavelmente, enfrentam
esse inferno. Só consigo enxergar prejuízo, tanto para o cidadão quanto para o
Estado. São funcionários chegando atrasados ao local de trabalho e tendo mais
gastos com a manutenção do carro. São pessoas que, a longo prazo, ficarão
doentes e lotarão os hospitais públicos e os privados. É gente que chega
irritada ao trabalho e isso só gera um ambiente improdutivo e tenso. São
indivíduos que, a qualquer momento, podem perder as estribeiras e provocar
cenas de violência absurda. Enfim, a lista de prognósticos ruins é extensa. E
qual é a solução para melhorar esse trânsito caótico? Não sou especialista em
trânsito, mas tenho lá a minha sugestão: METRÔ. Só ônibus não resolve. Metrô
moderno e eficiente. E pronto!
Ah, quanto tempo gastei para chegar
ao local do meu compromisso, no Setor de Autarquias Sul? Uma hora e meia! Quase
uma eternidade! Como havia saído mais cedo, com tempo de sobra, cheguei na hora
exata. Nem mais, nem menos.
(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho)