sábado, 30 de outubro de 2010

REVISTA OBULE 02

Amigos leitores, a edição número 2 da nossa revista está quase pronta, não aguentamos e abrimos o forno e tiramos de lá uma prévia da capa para dividir com vocês!

Nela vocês irão encontrar alguns INÉDITOS dos nossos colunistas, as RESENHAS mais comentadas, os TEXTOS mais polêmicos, contribuição dos nossos COLABORADORES, as ENTREVISTAS de Luiz Henrique Pellanda e Italo Moriconi e a estreia da camapanha CORRAATRÁSDESSESLIVROS.

E para abrir o apetite, você pode relembrar as edições da Revista O BULE AQUI (edição Zero) e AQUI (edição #01).

sábado, 9 de outubro de 2010

PORCELANA




Por Geraldo Lima
        
Algo se partira. Baque seco na cerâmica. O vaso de flores? O cinzeiro em forma de pássaro?         
Ásperas palavras.  Farpas. A voz: o avesso da doçura de dias atrás. Ontem mesmo não se beijavam na sala?
Som estridente de tapa. Em seguida, a voz da mãe misturando ao choroo veneno das palavras. Um estrondo em seguida: porta fechada com força e fúria. Passos — acompanhou-os até sumirem no oco do ouvido. O pai...
No outro cômodo, o silêncio. A mãe doía por dentro.

O RETORNO


 Por Geraldo Lima

            Porta entreaberta: fenda por onde ele se esgueira até o centro da sala. Tudo o que ela permitiu foi isso, e talvez seja muito.
            Buscar no sem-assunto algum princípio de conversa, quase um martírio. Se justificar. Pedir desculpas. Como vão as coisas? Ela parece bem disposta a manter-se trancada por dentro, sonegando informações, evitando intimidades: sem olho no olho, sem  lhe oferecer um assento.
            Que   palavra romperia essa geleira?
            Aí estão as crianças, porém é como se não: sem euforia, sem afagos. Olham-no indiferentes. Crescidas... Seriam ainda seus filhos? Aguarda ansioso pela palavra mágica. Em vão.
        Ela parece vingada: fita-o firmemente agora, saboreando esse início de fracasso.
            Sobre ambos, com a mesma tenacidade, agira o tempo. Nela,  todavia, alastrara-se ainda o câncer do ódio. Aquele homem abandonara-os sem justificativa alguma! Se sofrera durante aquele tempo, fizera por merecê-lo. Ela, porém, não merecia sofrimento algum. Mas que fizera nos últimos tempos senão sofrer? Impossível crer de novo. Desde aquele  dia, até o último da sua existência, o deserto, a alma despovoada, o coração inacessível.
            Ele querendo, no entanto, recompor a paisagem de outrora, reencontrar os mesmos gestos, um fiapo de ternura. Recomeçar tudo de novo? Ele diz que sim, eis seu maior desejo. Ela, irônica: Sabe quando? Ainda assim, quer que ela confirme. Nunca mais!      
            A porta aberta, ampla, para que ele saia. Antes que fraqueje, enxota-o feito um cão.