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segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Samba


Por Aimé Césaire

Tudo o que  da enseada se aglutinou para formar teus seios todos os sinos de hibiscos todas as ostras perlíferas todas as pistas embaralhadas que formam um mangue tudo o que há de sol armazenado nos lagartos da serra todo o iodo necessário para fazer um dia marítimo toda  madrepérola necessária para desenhar um ruído de búzio subaquático
Se tu quisesses
        os baiacus à deriva iriam se dando as mãos
Se tu quisesses
ao longo de todo o dia as forônidas  fariam estradas com seus tentáculos e  os bispos seriam tão raros que a gente nem ficaria surpreso de saber que eles foram engolidos pelos bastões dos trichomanes
Se tu quisesses
       a força física
       asseguraria sozinha a noite com uma marcação de araras
Se tu quisesses
nos subúrbios que eram pobres as rodas d’águas retornariam aos copos o perfume dos mais novos ruídos nos quais se embriaga a terra nas suas dobras infernais
Se tu quisesses
       as feras beberiam das fontes
       e em nossas cabeças
       as pátrias de terras violentas
       estenderiam como um dedo aos pássaros a aparência
       sem tremor dos altos pinheiros.

    (Tradução: Geraldo Lima)

sábado, 25 de agosto de 2012

Filho do raio


Por Aimé Césaire

E sem que ela tenha se dignado a seduzir  os carcereiros
em seu corpete se desintegrou um buquê de colibris
em suas orelhas germinaram rebentos  de atóis
ela me fala uma língua tão doce que a princípio eu
não compreendo mas com o tempo adivinho que ela
me afirma
que a primavera  chegou à  contracorrente
que toda sede está saciada que o outono se  
conciliou conosco
que as estrelas na rua floriram em pleno meio-dia e
muito baixo suspendem seus frutos 

(Tradução: Geraldo Lima) 
 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Chuvas



Por Aimé Césaire

Chuva que nos seus mais repreensíveis transbordamentos
não deixa
esquecer que as meninas do Chiriqui tiram de repente
de seu corpete noturno uma lâmpada feita de vaga-lumes
comoventes
Chuva capaz de tudo exceto de lavar o sangue que escorre
nos dedos dos assassinos dos povos surpreendidos sob
as altas florestas da inocência


(Tradução: Geraldo Lima)



(Aimé Césaire foi poeta, dramaturgo, ensaísta e político da negritude. Além de ser um dos mais importantes poetas surrealistas no mundo inteiro, inclusive no dizer do líder deste movimento, Breton, Aimé Césaire foi, juntamente ao Presidente do Senegal, Léopold Sédar Senghor, o ideólogo do conceito de negritude, sendo a sua obra marcada pela defesa de suas raízes africanas.) Wikipédia

domingo, 19 de agosto de 2012

Outro horizonte


Por Aimé Césaire

Noite chagada fendida
noite arvoredo telegráfico plantado no oceano
por minuciosos amores de cetáceos
noite fechada
maceração esplêndida
onde com todas suas forças com todas suas feras se recolhe
o músculo violeta do acônito napel de nosso sol

(Tradução: Geraldo Lima)

sábado, 12 de maio de 2012

Algas


Por Aimé Césaire

a retomada aqui se faz
pelo vento que da África vem
pela poeira do alísio
pela virtude da espuma
e a força da terra

nu

o essencial é se sentir nu
de pensar nu
           a poeira do alísio
           a virtude da espuma
           e a força da terra
a retomada aqui se faz pelo influxo
mais ainda que pelo afluxo
           a retomada
                   se faz
                       alga laminária

(Poema de Aimé Césaire; tradução: Geraldo Lima)