sexta-feira, 18 de julho de 2014

Um poeta no MASP


Por Geraldo Lima

Chegamos ao vão do MASP (Museu de Arte de São Paulo) e logo somos abordados por um poeta que nos apresenta seu livro de poesia intitulado “Petit Trianon”. Pede para abrirmos na página onze. Abro e leio o poema cujo título é “vir-a-ser”. Acho fraco. Confessional demais. Falta aquele trato dado à linguagem – falta, essencialmente, a compreensão de que poesia é "linguagem carregada de significado", como diria Ezra Pound.

Caio na besteira de perguntar quanto custa. Vinte reais, responde o poeta. Acho caro. Não por ser livro de poesia e por ainda estar sendo vendido assim, como no período da Geração Mimeógrafo (naquela época, década de 70, muitos poetas, ditos marginais, confeccionavam e vendiam seus livrinhos de poesia nos bares, portas de teatro, de cinema etc. Eu mesmo fiz isso. Era um modo de se opor ao sistema fechado das editoras). Não, não era esse o motivo: é que achei o conteúdo fraco e péssimo o acabamento dado ao livrinho. Só que nesse ínterim minha esposa achou de revelar que eu era escritor também. Aí fiquei constrangido de dizer que não iria ficar com o livro. Iria parecer falta de solidariedade, de amor à arte da palavra. Um escritor sovina, sem espírito de classe, ah, nem pensar!  Comprei o livro, mas achando que deveria ter pelo menos pechinchado.

Diz um texto de apresentação que o poeta "compartilha sua poesia por mais de vinte anos em frente ao MASP". Nasceu em Londrina, talvez isso explique o nome que lembra mais um poeta russo: Ivan Petrovich. Folheando o livro, descobri alguns haicais entre os poemas longos (o haicai é um poema de origem japonesa, composto de três versos). Os longos são, de um modo geral, fracos, mas os haicais são bons. Isso até me deixou aliviado: os vinte reais não foram de certo modo desperdiçados. Publico aqui dois dos haicais do nosso poeta para que possam atestar se estou equivocado ou não:

"verde bambuzal,
passeia no vento
a borboleta sem cor"

"sol do meio dia
nem sombra da minha sombra
o fundo sem fundo"

(Texto publicado, originalmente, no Jornal de Sobradinho)