Por Geraldo Lima
Sei que há os que ainda saem de casa
despreocupadíssimos como se nada de importante e perigoso estivesse acontecendo,
mas o fato é que, pelo menos para mim, sair de casa para resolver as questões
do dia a dia tornou-se um ato trabalhoso e estressante. São muitos os cuidados
que devem ser tomados para que essa saída esteja dentro do protocolo com as
medidas sanitárias adotadas para conter o avanço da Covid-19.
E é aí que o sair de casa se
complica.
O ritual – para os que estão fora do
grupo dos negacionistas – começa com a colocação da máscara. Até aí, tranquilo.
É só escolher um dos modelitos na gaveta da cômoda [a máscara com emblema do
time do coração, a máscara com as cores da Bandeira Nacional, a máscara
combinando com a blusa e o sapato, a máscara indicada pelo especialista tal...],
prender os elásticos atrás das orelhas [nunca pensamos que elas teriam outra
utilidade senão a de sustentar as hastes dos óculos] e sair sem temor.
Por falar em óculos, nestes tempos de
cuidados extremos, usá-los acarreta um trabalho extra na hora de sair,
principalmente se for de carro. Caso você use óculos de grau, precisará passar
sabonete nas lentes para que não embacem com o hálito quente que escapa pelas
bordas superiores da máscara. Aliás, esse foi um dos primeiros macetes que
aprendi logo no início da pandemia, e tem me valido muito! É impressionante o
grande número de MacGyvers que surge para auxiliar-nos nessas horas de
aperto.
Um viva para eles!
Com máscara no rosto e óculos
preparados contra embaçamento, você se lança à missão do dia. Já na porta, quase transpondo a soleira,
lembra-se de que não pegou o frasco de álcool em gel, e volta meio irritado
para pegá-lo! Sim, mesmo tendo uma infinidade de recipientes e de totens contendo
álcool em gel 70% em todos os estabelecimentos comerciais, clínicas médicas, clínicas
veterinárias, hospitais, bancos etc., você, como cidadão prevenido, leva o seu.
E faz muito bem, vai que o seu seja de melhor qualidade que os disponibilizados
nesses ambientes, né? Eu, particularmente, sempre levo um vidrinho de álcool em
gel no bolso ou dentro do carro. Um homem prevenido vale por dois, não é o que
dizem?
Parar complicar um pouco mais o
simples ato de sair, junte-se a isso outros objetos que você teria que levar,
mas que, por focar nos listados acima, indispensáveis nesses dias pandêmicos,
acaba se esquecendo deles, como a carteira, a chave do carro, a lista de
compras, o celular, a garrafa d’água, a blusa de frio, o guarda-chuva etc. etc.
Quando você consegue, enfim, cruzar o portão de casa ou a portaria do prédio,
já gastou um tempo enorme e seus nervos se desgastaram um pouco mais.
Agora, pense na volta. Pense no
chegar em casa vindo da padaria, do supermercado, do hospital, do laboratório,
do banco, lugares onde você, inevitavelmente, cruzou com pessoas, umas usando a
máscara no queixo, ou nem isso, respirou o mesmo ar que elas, sentou-se no
mesmo banco que elas, sem poder manter o devido distanciamento, tocou em
objetos, em embalagens. Os cuidados se redobram, mais canseira: ter que lavar
alguns itens da lista de compras, aspergir álcool em outros, livrar-se das
embalagens, reaproveitar outras após higienizá-las, despir-se das roupas e
colocá-las logo para lavar, tomar banho.
Ou seja, outra trabalheira!
Isso, obviamente, para quem está
preocupado em se proteger do Coronavírus, estando ou não no grupo de risco. Preocupa-se
em proteger a si mesmo e aos outros. Em outras palavras, prima por valorizar a
vida.
[Crônica publicada, originalmente, no Jornal Opção, Goiânia, 2021]