quarta-feira, 27 de maio de 2015

Loucos?




Por Geraldo Lima

Antigamente (e digo isso só por força de expressão mesmo), uma pessoa que andasse pela rua falando sozinha (falando e gesticulando!) era, sem dúvida alguma, louca. Era o diagnóstico mais preciso que já conheci. Havia, inclusive, as que, além de falar com o invisível, costumavam se esmurrar. Esmurravam em si, talvez, o inimigo ausente.

Conheci uma dessas pessoas. O sujeito era alto, cabelos desgrenhados, a cara de boxeador que só apanha. Rezava a lenda que ele havia batido na mãe e por isso ficara daquele jeito. Morria de medo dele. Melhor: tinha pavor! Era avistá-lo ao longe e eu pegava um desvio de quilômetros de distância.

Hoje não é mais assim. Vez ou outra nos deparamos com alguém falando sozinho, gesticulando, bradando até, e, assim que vamos lhe aplicar o diagnóstico da loucura, o engano se desfaz. Descobrimos, entre o alívio e o espanto, que essa pessoa, na verdade, fala ao celular, através de um fone de ouvido e um microfone, com alguém distante. Tudo muito camuflado, quase parte do corpo. Por conta disso (e talvez por reflexo do passado), já até mudei de fila em supermercado, sacolão e banco ao ver alguém, à minha frente, falando sozinho. Falando e gesticulando. Alguns, mais exagerados, até esmurram o ar.