quinta-feira, 7 de janeiro de 2010



             DEMÊNCIA

                                                                 GERALDO LIMA

            Do umbigo do tempo até este presente, despraticando a circunspecção da linguagem, obscurecendo-a luminosamente,  discursando para o nada. Sem um interlocutor à altura da sua retórica fantástica,  seu exercício de semear o incomunicável, seu despir-se de todos.
            Dizem no bojo do máximo espanto: alimenta-se da carne das palavras, umas com o estranho poder de eternizá-lo. Creio nesse mistério também: o modo como o tempo o tem poupado reforça a crença. Petrificou-se. Divinizou-se. Aere perennius. Não adoece, não envelhece, não carece de ninguém. A solidão é, portanto,  sua trincheira absoluta. Onde o real ergue muros, lá ele principia, sem limites.
            Sempre consigo mesmo, inacessível. Desavença constante com algo que inexiste. Aparentemente.  Basta entender que, o que para ele existe, existe imenso. Olhos comuns assim, dados ao mínimo, nada penetram, nada discernem.
            Dizem, no entanto, ávidos de clareza:  espíritos mandam nele. 

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