terça-feira, 4 de outubro de 2011

Sueli




Por Mariel Reis

às vezes ele me bate. não é toda noite, não. só quando não trago dinheiro. aí ele se zanga. tem muita mulher doida por ele e que se eu não fizer minha parte, posso dar adeus. eu não complico. enquanto ele fala, vou para o banho. me livro da catinga dos outros homens, me produzo. ele, lá, na cama, reclamando. xinga mesmo. bate na cara da tua putinha. abro o zíper e uma chupetinha rápida dobra o malandro. com uma boquinha de veludo dessas e você tá dura. não entendo. o papo muda. a viração não deu muito. otário tá em extinção, sentencia. amanhã você vai faturar mais pro seu amorzinho, não? belisca a minha coxa. sim, meu amor. amanhã tem mais. ele dá umazinha mixu­ruca. finjo. vai garanhão. mete fundo, na sua sue­lizinha. no fundo, um outro cliente. de outro tipo. praquele que a gente abre as pernas com prazer. e a gente é que paga. minha mãezinha, ele geme. minha mamãezinha. me castiga. morde o bico do meu peito. refeito, veste a roupa. me avisa que vol­ta amanhã. nada de artimanhas. quer o dinheiro. nem um tostão a mais ou a menos. me esbofeteia a cara. segura meu pescoço com as mãos como se fosse me esganar. perco o fôlego. meus pés saem do chão, a vista embaralha. mortinha de amor.

Conto extraído do livro 'Vida cachorra', de Mariel Reis.

2 comentários:

  1. Muito interessante este trecho do livro,tens razão, é bom que o texto incomode, que ele faça a gente se remexer na cadeira, já basta a televisão, nosso anestésico de todos os dias. bjs

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  2. Pois é, Cynthia, sem isso é só literatura de entretenimento, algo que se esquece ao virar a esquina. Gosto de histórias que ficam reverberando na mente, como essa aí, do Mariel.
    Obrigado!

    Um abração!

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