segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Samba


Por Aimé Césaire

Tudo o que  da enseada se aglutinou para formar teus seios todos os sinos de hibiscos todas as ostras perlíferas todas as pistas embaralhadas que formam um mangue tudo o que há de sol armazenado nos lagartos da serra todo o iodo necessário para fazer um dia marítimo toda  madrepérola necessária para desenhar um ruído de búzio subaquático
Se tu quisesses
        os baiacus à deriva iriam se dando as mãos
Se tu quisesses
ao longo de todo o dia as forônidas  fariam estradas com seus tentáculos e  os bispos seriam tão raros que a gente nem ficaria surpreso de saber que eles foram engolidos pelos bastões dos trichomanes
Se tu quisesses
       a força física
       asseguraria sozinha a noite com uma marcação de araras
Se tu quisesses
nos subúrbios que eram pobres as rodas d’águas retornariam aos copos o perfume dos mais novos ruídos nos quais se embriaga a terra nas suas dobras infernais
Se tu quisesses
       as feras beberiam das fontes
       e em nossas cabeças
       as pátrias de terras violentas
       estenderiam como um dedo aos pássaros a aparência
       sem tremor dos altos pinheiros.

    (Tradução: Geraldo Lima)

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