quinta-feira, 26 de março de 2015

Neste 15 de março

 Por Geraldo Lima

Neste 15 de março, ficamos em casa.

Neste 15 de março, recebemos a visita de duas amigas de longa data, e a casa se encheu de afetos e palavras.

Neste 15 de março, saí para comprar agrião, acelga e vagem na feira de hortifrutigranjeiros do Colorado.

Neste 15 de março, fui ao Plano Piloto buscar e levar uma das nossas amigas, que sofre de câncer, e vi faixas chamando para a rua.

Neste 15 de março, comemos yakissoba, preparado pela nossa amiga japonesa, e, entre uma garfada e outra, recordamos nosso passado em Planaltina e alhures.

Neste 15 de março, revimos fotografias da nossa juventude repleta de energia e sonhos, e bateu uma nostalgia danada daquele tempo vivido já no final dos anos de chumbo.

Neste 15 de março, minha esposa, usando o celular, fotografou fotos do álbum de uma das nossas amigas e as postou no Face, alardeando o quanto éramos jovens e magros.

Neste 15 de março, não liguei o televisor, nem li o Correio Braziliense, nem acessei a página do UOL.

Neste 15 de março, li um texto sobre o poeta e cineasta Pier Paolo Pasolini, falando da sua angústia em relação ao cenário político da Itália da década de 1970.

Neste 15 de março, li alguns trechos do romance “A chave de casa”, da escritora brasileira Tatiana Salem Levy e fui transportado para Esmirna, na Turquia – ah, o mágico poder da literatura!

Neste 15 de março, postei um texto no Twitter e outro no Facebook criticando aos que pedem a volta dos militares ao Poder – tentei ficar calado, mas não consegui.

Neste 15 de março, falamos do nosso desencanto com o PT, do quanto nos sentimos frustrados e traídos com suas derrapadas no governo, mas nem por isso marcharíamos ao lado dos Bolsonaros da vida.

  

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