Por Geraldo Lima
Dobra
4.
Sobre sua cabeça, um enxame de naves
espaciais indo e vindo. Embaixo, um frenesi de seres bizarros, uma multidão que
se desloca em todas as direções. Ele
também se desloca, pois sabe que é só mais um entre os estranhos.
O barulho estridente de uma sirene, vindo
talvez no encalço de alguém, o faz, instintivamente, acelerar o passo,
esquivando-se entre os transeuntes, sem que, em momento algum, esbarre em
alguém.
Agora parece estar em fuga e nem sabe por
quê. Seu corpo, leve como uma pluma, foi impelido para frente só com o impulso
do medo. Mas, medo de quê? Seria preciso parar e refletir sobre esse gesto
instintivo, próprio de um animal selvagem fora do habitat. Procura no corpo
algum dispositivo que possa ter sido acionado automaticamente, apenas com a
alteração dos batimentos cardíacos, mas nada encontra. Talvez um chip
implantado no cérebro seja o responsável por esse gesto brusco, instintivo, mas
como ter certeza agora? Há tantas possibilidades. O dispositivo que o impeliu a
fugir pode estar coberto por camadas e camadas de acontecimentos e seria
humanamente impossível chegar até ele.
Pode ser algo de muito errado que ele tenha feito e, para se
autopreservar, tenha esquecido numa das muitas dobras do tempo. Algo que tenha a ver, inclusive, com a menina
de penugem dourada.
Absurdo continuar fugindo assim, quando o
perseguido pode ser um mutante ou um humano qualquer, um desses delinqüentes
que aparecem em todas as épocas.
Freada brusca de dois carros na esquina,
imprecações, fúria de buzinas. Um dos carros acelera, canta pneu e sai
alucinado. De repente, um misto de loucura e sonho envolve este princípio de
noite. Seria preciso se refugiar em algum lugar para escapar deste
pandemônio?
Gira sobre si mesmo tentando encontrar uma
saída e só então percebe que está em outra rua, em outro tempo, que dobrou uma
esquina, atravessou para outra calçada e segue rumo ao sul, — como se, indo para o sul, fosse encontrar um lugar seguro.
(Continua...)
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