domingo, 10 de junho de 2012

Dobras



Por Geraldo Lima

Dobra 5.

Aqui, nesta ruazinha, as pessoas andam com mais vagar, olhando atentas as vitrines das pouquíssimas lojas.  São ainda pessoas desconhecidas, saindo da cartola de um mágico invisível. Suas vestes revelam um passado distante, que ele conhece apenas de livros e revistas.

Estava se afastando, cada vez mais, do ponto de origem ou estava, na verdade, aproximando-se dele?

Lembra-se vagamente de ter ouvido uma voz enquanto deixava a casa e seu burburinho. A voz pedia, implorava, na verdade, para que ele não demorasse, para que não se desviasse pelo caminho e sumisse como das outras vezes. Ouvira, entretanto, algo que ele não havia entendido. A pessoa, talvez sua mãe, dissera algo mais ou menos assim: Seu corpo não pode viver sem você.  Sim, sim, eu ouvi essa frase, quase grita, tentando chamar a atenção dos transeuntes. Ninguém, no entanto, abandona o andar distraído para lhe dar atenção.  Lembra-se de ter dito algo assim como: Só vou ver onde os homens estão. Crê que os homens sejam aqueles que conversavam na varanda, gargalhando no mais completo desrespeito ao morto, — caso fosse mesmo um morto que se encontrava lá, no centro da sala, em  exposição.

A seqüência de ações era ainda nítida em sua mente: abriu o portão, desceu três ou cinco degraus, tocou a calçada e a rua infinita desdobrou-se ante os seus olhos, mais adiante outra e outra e outra... 

Perguntava-se agora: Estou indo para algum lugar específico? Este meu caminhar de rua em rua, de ermo em ermo, de mundo em mundo tem algum destino certo? Sabia, com absoluta certeza, que não estava indo atrás dos homens (os que, supostamente, teriam saído para beber e jogar sinuca), mesmo porque já não sabia quem eram esses homens e se seria possível identificá-los agora. 

Cansado de seguir em linha reta, entra numa das lojas, cheia de quinquilharias, e vai avançando em ziguezague. A loja parece não ter fim. Uma galáxia inteira de bugigangas. Um universo que se dilata segundo a segundo. Olha para trás e não vê mais a porta por onde entrou. Então, avança, e continua a avançar, mesmo sem saber aonde vai chegar. Avança porque sabe, no íntimo, que isso não tem mais fim.   

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